«Decidimos derrubar paredes, juntar alunos. Compreendemos que, sozinhos, não poderíamos ensinar tudo a todos. Mas, se estivéssemos em equipa, com um projeto, e autonomizássemos o acto de aprender, poderíamos responder efectivamente às necessidades de cada jovem.» José Pacheco José Pacheco é um visionário e educador português. Em 1976, esteve quase a desistir de dar aulas devido à impressão constante de que estava, de algum modo, a excluir jovens da possibilidade de aprender. A Escola da Ponte (https://www.facebook.com/escolabasicadaponte), em Negrelos, Portugal, era, na altura, mais uma escola pública degradada que albergava alunos violentos de 14 e 15 anos que não sabiam ler nem escrever.
Depois de se questionar acerca da razão por que alguns alunos não aprendiam, mesmo dando ele aulas bem preparadas, juntou-se a dois colegas e decidiram aplicar as suas ideias numa abordagem de ensino inovadora. Fizeram-no nos tempos livres, continuando a dar as «aulas convencionais», respeitando, desse modo, a atitude conservadora dos que não ambicionavam uma mudança. Gradualmente, introduziram uma cultura de equipa, em oposição à cultura de solidão presente nos métodos de ensino tradicionais. Ao longo dos anos, neste local de ensino, sempre se fomentou a co-responsabilização: os alunos são agrupados segundo as suas áreas de interesse (definidas por cada um) e trabalham em grupo em projectos de pesquisa. Também trabalham individualmente, partilhando posteriormente as suas conclusões com colegas e educadores. Não existem aulas, nem exames, nem anos escolares. Os professores não leccionam uma só disciplina, estão disponíveis para orientar os alunos consoante estes precisem. Os jovens adquirem, desde cedo, um forte sentido de cidadania, de solidariedade e, portanto, de comunidade. Enquanto equipa, e promovendo uma aprendizagem autónoma, José Pacheco e os seus colegas educadores conseguiam dar resposta às necessidades dos jovens. Inicialmente, os alunos não aceitaram bem a nova forma de ensino, simplesmente porque era mais fácil apenas escutar o professor do que trabalhar em projectos, fazer pesquisa e desenvolver o pensamento crítico. Alguns professores de outras escolas mostraram-se descrentes, criando mesmo alguns obstáculos à concretização desta visão. Com o tempo, os resultados dos alunos começaram a demonstrar a elevada qualidade deste método educacional. Relatórios de avaliação recentes mostram que os alunos da Escola da Ponte obtêm melhores notas do que alunos de outras escolas, e o seu nível de desenvolvimento social e moral é ainda mais significativo. O método de ensino da Escola da Ponte atribui grande importância à ética e, como é sabido que os desenvolvimentos estético e cognitivo se influenciam mutuamente, o saber não é fragmentado. A Escola da Ponte provou que uma outra forma de educação é, de facto, possível, unindo excelência académica e inclusão social. Mais recentemente, e depois de deixar a sua estimada criação, a Escola da Ponte, florescer por si, José Pacheco foi convidado pelo já falecido Walter Steurer a ajudá-lo a «construir uma escola» no Brasil, com base na LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) brasileira, e assim nasceu o Projeto Âncora (http://www.projetoancora.org.br/) no estado de São Paulo. A escola do Projeto Âncora segue uma educação sustentável, promovendo eficazmente a integração social, indo contra a eterna exclusão dos jovens mais pobres do sistema educativo. As escolas brasileiras carecem de espaços de interacção reflexiva e, somente após se libertarem do modelo educacional obsoleto ainda seguido pela maioria, bem como da gestão burocrática que favorece questões administrativas em detrimento das pedagógicas, se poderão transformar em lugares de aprendizagem integrada, em que os saberes não se dividem, em que não existe segregação de jovens, cujos valores principais sejam a liberdade, a responsabilidade e a solidariedade (os três valores fundamentais, nos quais assenta também a Escola da Ponte), e também a autonomia, a democracia e a cooperação. José Pacheco visita Portugal frequentemente, tanto para seguir projectos de ex-alunos, como para matar as muitas saudades dos netos. Hoje, os mais antigos alunos da Escola da Ponte são homens e mulheres com cerca de 55 anos que expressam no seu dia-a-dia os valores aprendidos naquela escola. São cidadãos de pleno direito, realizados e socialmente integrados. Tenhamos esperança em sensibilidade e vontade políticas cada vez maiores para que se apoiem a criação e a manutenção de mais lugares de aprendizagem e partilha como a Escola da Ponte, em Portugal, e o Projeto Âncora, no Brasil. Todos ganharemos com isso. Comments are closed.
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